GERAL

A SEDE DO GIGANTE

Por Jornalista Rodrigo Piovezan (Nº 003701-MT)
Publicado em 04-11-2025 às 14:11hrs
Mato Grosso, o estado celeiro do Brasil, está sentado sobre um paradoxo: é o berço de algumas das maiores bacias hidrográficas do continente, mas enfrenta uma inédita e crescente Crise Hídrica Mato Grosso. A água, que sempre foi um sinônimo de abundância e prosperidade, transformou-se no recurso mais disputado, expondo rachaduras profundas entre desenvolvimento econômico e sustentabilidade ambiental. De um lado, a expansão incessante do agronegócio; do outro, a retração visível dos rios que sustentam o Pantanal e a Amazônia.
A SEDE DO GIGANTE

As estatísticas de desmatamento e o uso intensivo de irrigação nos platôs do Cerrado não são apenas números ambientais, eles se traduzem diretamente na diminuição da vazão dos afluentes do Rio Cuiabá, do Xingu e do Paraguai. Este não é um problema de seca sazonal, é uma alteração sistêmica no ciclo hidrológico.

O Pantanal mato-grossense, a maior área úmida do planeta, sente o golpe de forma mais brutal. A vazante anual está mais longa, e a cheia, menos intensa. O que antes era um ciclo de vida e renovação, agora é um risco iminente de desertificação em áreas cruciais. A Crise Hídrica Mato Grosso não atinge apenas a fauna e a flora; ela desestrutura a vida de comunidades ribeirinhas, quilombolas e indígenas, que dependem da saúde do rio para subsistência, transporte e cultura.

A pesca, uma atividade vital, despenca. O turismo ecológico, uma promessa de diversificação econômica, é ameaçado. A água salobra, a lama e a areia exposta nos leitos dos rios são testemunhas silenciosas de uma gestão de recursos que priorizou a produção sobre a preservação. É uma emergência socioambiental que exige mais do que soluções paliativas.

É inegável que o motor da economia mato-grossense é o agronegócio. No entanto, o setor também começa a sentir na pele os efeitos da má gestão hídrica. O custo de bombeamento de água aumenta, a qualidade do solo se degrada, e a insegurança jurídica sobre o uso dos recursos se torna um fator de risco.

A solução passa, obrigatoriamente, pela tecnologia. O uso de irrigação de precisão, o replantio de matas ciliares e a adoção de práticas de manejo de solo que aumentam a infiltração de água (plantio direto) são caminhos.

Grandes produtores rurais em Mato Grosso começam a entender que a sustentabilidade não é um custo, mas uma estratégia de longo prazo. A certificação de origem, que exige responsabilidade hídrica, se tornará o novo padrão.

Em vez de focar apenas no conflito, a saída está em transformar a Crise Mato Grosso em uma oportunidade de liderança global em agricultura sustentável, mostrando que é possível produzir e conservar.

O desafio final é a governança. Mato Grosso precisa de um Plano Estadual de Recursos Hídricos que seja transparente, fiscalizado e que trate a água como um bem público escasso, e não como um insumo infinito, significando Investimento em estações hidrométricas e satelitais para acompanhar o uso e a disponibilidade em tempo real, criação de um conselho permanente que sente à mesma mesa representantes do agronegócio, comunidades tradicionais, ONGs e uma mudança cultural que valorize a água desde as escolas até as grandes fazendas.

As informações confirmam o cenário dramático, com destaque para a seca extrema no Norte de MT, as cotas historicamente baixas no Rio Paraguai (Cáceres e Barra do Bugres) e a vazão crítica em rios menores, como o Rio Jangada, que chegou a $0,003 m^3/s$ (3 litros por segundo).

Além disso, temos dados sobre os programas do Governo, como o Programa Todos pelo Araguaia MT e a adesão ao Pacto em Defesa das Cabeceiras do Pantanal.

Mato Grosso, o estado que abriga o Cerrado, o Pantanal e a Amazônia, é historicamente a caixa d'água do Brasil. Mas, nos últimos anos, essa riqueza vital tem escoado a uma velocidade alarmante. O que era um temor sazonal transformou-se em uma emergência climática e econômica de longo prazo, batizada de Crise Hídrica Mato Grosso. Esta crise não é apenas a falta de chuva; é o resultado da pressão desmedida sobre os ecossistemas, que sustentam o ciclo da água.

A crise transcende os grandes rios. Na bacia do Rio Jangada, um afluente crucial para o abastecimento, a vazão chegou a um nível calamitoso de apenas $0,003 m^3/s$ (ou 3 litros por segundo). Para o abastecimento mínimo da região, seriam necessários 15 litros por segundo, ou seja, um volume cinco vezes maior. Este exemplo ilustra a fragilidade do sistema hídrico de Mato Grosso diante da demanda e da má gestão.

A legislação de recursos hídricos em Mato Grosso precisa de um choque de realidade. A competição pela água gera conflitos quantitativos, especialmente nas bacias mais pressionadas. O setor de agronegócio, embora crucial, é o maior demandante de outorgas para irrigação.

Felizmente, a percepção de que a água é o recurso mais estratégico do estado começa a pautar as ações governamentais e setoriais. Mato Grosso tem iniciativas importantes, que agora precisam sair do papel e se tornar resultados concretos.

O "Todos pelo Araguaia MT" instituído pelo O Governo de Mato Grosso é um  programa com o objetivo de revitalizar a Bacia Hidrográfica do Alto Rio Araguaia, focando na recomposição florestal de Áreas de Preservação Permanentes (APPs) e áreas de recarga hídrica, com meta de alcançar a recomposição de 5.000 hectares em municípios prioritários.

O Pacto pelas Cabeceiras do Pantanal, uma aliança multisetorial que envolve o governo, prefeituras de 25 municípios e entidades como a WWF-Brasil, demonstra o compromisso com a proteção das nascentes. O programa inclui a instalação de biofossas para evitar a contaminação e a adesão de municípios ao programa Produtor de Água da ANA, que remunera financeiramente produtores rurais por serviços ambientais, como a conservação de matas ciliares.Adesão ao Pacto pela Governança da Água demonstra a parceria com o Governo Federal e a ANA (Agência Nacional de Águas de Saneamento Básico) fortalece o compromisso com a gestão integrada e o uso racional da água, reconhecendo a necessidade urgente de revitalização de rios como o Paraguai e o Araguaia.

O caminho para o futuro passa pela inovação tecnológica como a irrigação de precisão e, mais crucialmente, pela governança transparente e pelo diálogo intersetorial. A responsabilidade de garantir que os rios voltem a ter seus níveis normais é compartilhada entre produtores, legisladores e a sociedade civil. Mato Grosso precisa provar que é possível ser o celeiro do mundo sem secar suas nascentes. O desafio está lançado: ou o estado se adapta e preserva sua caixa d'água, ou a escassez definirá seu destino.

A expansão agrícola intensiva e a exploração de recursos, muitas vezes sem o devido manejo, expuseram o coração do estado à seca extrema. Dados recentes, monitorados pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB), revelam um cenário de colapso em bacias vitais. A seca extrema (S3) já avança pelas porções Norte do estado, e os impactos de longo prazo atingem o Sudeste, confirmando a alteração sistêmica do clima regional. O custo dessa alteração é medido em litros perdidos e conflitos sociais.

O Pantanal mato-grossense, um Patrimônio da Humanidade, está pagando o preço mais alto. Seus rios, que deveriam ser veias pulsantes de vida, estão se transformando em leitos de areia.Em Cáceres, a cota do Rio Paraguai atingiu a marca de 40 cm - a segunda cota mais baixa da história, ficando atrás apenas do recorde de 24 cm registrado em 2021. Em Barra do Bugres, a situação é igualmente dramática, com a cota chegando a 29 cm, a terceira mínima histórica. Estes números, mais do que estatísticas, representam a interrupção da navegação, a morte da fauna aquática e o isolamento das comunidades ribeirinhas.

Colapso em Bacias Menores demonstra a crise transcende os grandes rios como na bacia do Rio Jangada, um afluente crucial, a vazão chegou a um nível calamitoso de apenas 3 litros por segundo. Para o abastecimento mínimo da região, seriam necessários $15 por litros por segundo, um volume cinco vezes maior. Este exemplo ilustra a fragilidade do sistema hídrico de Mato Grosso diante da demanda e da má gestão.

A Agência Nacional de Águas (ANA) já precisou declarar situação de escassez hídrica na Bacia do Rio Paraguai, impondo restrições ao uso e mobilizando Salas de Crise para acompanhar a situação. A água salobra, a lama e a areia exposta nos leitos dos rios são testemunhas silenciosas dessa realidade, o motor da economia mato-grossense, o agronegócio, começou a perceber que a sustentabilidade hídrica é uma questão de sobrevivência econômica. A saída passa pela adoção maciça de mecanismos como o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), Mato Grosso é um dos estados com projetos ativos do Programa Produtor de Água da ANA, e o tema já foi pauta de capacitação para mais de 50 agricultores em municípios como Tangará da Serra e Mirassol d'Oeste, que buscam entender os benefícios de "produzir" água.

Mais impressionante é a iniciativa do próprio setor com o Programa Guardião das Águas, da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT). Este projeto mapeou mais de 105.185 nascentes em 57 municípios. O dado que choca é positivo, o levantamento indica que mais de 95% dessas nascentes estão bem conservadas dentro das propriedades rurais. Isso inverte a narrativa: o produtor é parte da solução, e não apenas do problema.

É inegável que o motor da economia mato-grossense é o agronegócio, e a saída está em transformar a crise em uma oportunidade de liderança global em agricultura sustentável. Nesse contexto, a Assembleia Legislativa desempenha um papel crucial.

A atuação legislativa dos deputados, por meio de leis, decisões e iniciativas parlamentares, é fundamental para balizar a gestão dos recursos hídricos. Eles têm o poder de Fortalecer a Legislação, Promovendo um "choque de realidade" na legislação de recursos hídricos, garantindo que a competição pela água seja regulada de forma justa e que o uso racional seja priorizado, especialmente no setor de agronegócio, o maior demandante de outorgas.

Criando e fiscalizando o Plano Estadual de Recursos Hídricos e as políticas públicas de longo prazo, assegurando a transparência e o investimento em monitoramento (estações hidrométricas e satelitais), apoiar Iniciativas legislando em apoio a programas como o "Todos pelo Araguaia MT" e o "Produtor de Água", garantindo recursos e segurança jurídica para o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), reconhecendo a água como o recurso mais estratégico do estado.

A Assembleia Legislativa na vida do povo mato-grossense se manifesta ao transformar realidades. Ao criar novas leis e oportunidades, os deputados contribuem para melhorar a saúde, a educação, a segurança e gerar mais qualidade de vida. Promover e divulgar essas ações, através de matérias jornalísticas como esta, é vital para a melhor compreensão, acompanhamento e controle dos trabalhos da ALMT pela sociedade.

A meta, agora, é engajar prefeituras e produtores na recuperação das 5% de nascentes degradadas, transformando a Crise Hídrica Mato Grosso em uma oportunidade de liderança global em agricultura regenerativa e uso eficiente da água (irrigação de precisão e manejo de solo).

A Crise Hídrica Mato Grosso é, em última análise, o teste de maturidade do estado que ostenta o título de maior produtor de commodities do país. A escolha é clara: continuar explorando a água como um insumo infinito e assistir ao colapso de seus rios, ou liderar a transição para uma agricultura regenerativa onde a sustentabilidade hídrica é o pré-requisito da produtividade. Não se trata de escolher entre o verde da floresta e o amarelo dos grãos, mas de garantir que ambos sobrevivam. O futuro do Centro-Oeste será escrito em metros cúbicos por segundo.

O desafio final para o Berço das Águas não é apenas sobreviver à seca, é prosperar sem secar.

 

FONTE:  IBGE, ANA, INPE, SGB, Aprosoja-MT.

Comentários (0)

Veja Mais Notícias de MT não se responsabiliza pelos comentários aqui postados. A equipe reserva-se, desde já, o direito de excluir comentários e textos que julgar ofensivos, difamatórios, caluniosos, preconceituosos ou de alguma forma prejudiciais a terceiros. Textos de caráter promocional, inseridos sem a devida identificação do autor ou que sejam notadamente falsos, também poderão ser excluídos.

Lembre-se: A tentativa de clonar nomes e apelidos de outros usuários para emitir opiniões em nome de terceiros configura crime de falsidade ideológica. Você pode optar por assinar seu comentário com nome completo ou apelido. Valorize esse espaço democrático agradecemos a participação!

Outras Notícias

SAÚDEVer Mais